Abílio,
Tenho lembrado muito de ti esses dias. Faz tempo que não mando cartas e notícias ao povo daí. É tanta coisa na cabeça que falta hora e sobra indisposição e dispersão para escrever. Acho que esse negócio de ser "ar" em "ar" está me matando. Passo tanto tempo pensando na vida que minha vida virou pensar na vida.
E sabe onde "vivo" melhor? Na estrada. O friozinho, o balançar do ônibus nas rodovias quase sempre esburacadas e a música de fundo no radinho do motora é o suficiente para eu ir embora, me perder nos pensamentos e por incrível que pareça até dormir profundamente. Nesse exato momento, depois de muito pensar, resolvi escrever alguma coisa.
Estou voltando de Placas. Passei o fim de semana lá. Conheci uma pessoa que tenho certeza que adorarias: O Lucimar Barros da Silva, também conhecido como Lúcio.
Tenho lembrado muito de ti esses dias. Faz tempo que não mando cartas e notícias ao povo daí. É tanta coisa na cabeça que falta hora e sobra indisposição e dispersão para escrever. Acho que esse negócio de ser "ar" em "ar" está me matando. Passo tanto tempo pensando na vida que minha vida virou pensar na vida.
E sabe onde "vivo" melhor? Na estrada. O friozinho, o balançar do ônibus nas rodovias quase sempre esburacadas e a música de fundo no radinho do motora é o suficiente para eu ir embora, me perder nos pensamentos e por incrível que pareça até dormir profundamente. Nesse exato momento, depois de muito pensar, resolvi escrever alguma coisa.
Estou voltando de Placas. Passei o fim de semana lá. Conheci uma pessoa que tenho certeza que adorarias: O Lucimar Barros da Silva, também conhecido como Lúcio.
O Lúcio é um agricultor. Ele mora com os filhos, Luciano e Lucas, e a esposa, Clarice, em um terreno em Placas. Eles plantam cacau e criam algumas cabeças de gado. Moravam na Volta Grande do Xingu. Lá tinham várias plantações, mas foram expulsos por causa de Belo Monte. A família foi uma das primeiras a ser indenizada. Na época, há uns três anos, a Norte Energia estava em um processo de pagar relativamente bem algumas pessoas para incentivar a saída mais ligeira de outras, iludidas com os primeiros pagamentos.
Para conseguir um terreno bom como o que tinha na Volta Grande, Lúcio e a família tiveram que se mudar de Altamira para Placas, quase 7 horas de distância, indo pela Transamazônica.
Nem preciso dizer que a “indenização” deles foi uma exceção. Tanto que o Lúcio diz que até hoje tem gente lá onde ele morava na espera por indenizações justas (se é que isso é possível).
Tem gente que não vai ter todo o terreno alagado e só vai receber pelo que for comprometido. A Norte Energia só paga por terra alagada. Tipo, a pessoa recebe tanto por 1 hectare alagado, mas ela tem dois hectares. Muita gente não consegue se mudar com o valor pago e nem consegue vender o terreno "não alagado”, pois quem vai querer se mudar pra um terreno que ninguém sabe ao certo o que vai acontecer?!
Imagina só. Tu tens algumas terras, planta e colhe. Aí estás lá de boa escrevendo tuas poesias na varanda da tua casa quando chega um cara e diz: Vais ter que sair. Te dou tanto, mas só por essa parte, porque a hidrelétrica vai afetar “até aqui” (marca no chão). Gostaria muito de saber como eles fazem esse cálculo, sinceramente. Porque já vi gente no centro de Altamira tendo que sair porque a casa vai ser alagada e pessoas que moram no outro lado da rua, não. O rio só vai subir até metade da rua. Só pode. Acho que is construtores são tão poderosos que tem pleno controle até sobre onde o rio vai, acreditas?!
O Lúcio, assim como tu, é poeta e a Luana Peixe, amiga minha daí de Belém, vai fazer um filme sobre ele, por isso cá estou. Vim ajudá-la junto com a Janaína, amiga da Luana e agora, mais recentemente, minha amiga também. Por enquanto ainda não tem filme, mas deixo aqui essa poesia para te deixar na vontade:
Para conseguir um terreno bom como o que tinha na Volta Grande, Lúcio e a família tiveram que se mudar de Altamira para Placas, quase 7 horas de distância, indo pela Transamazônica.
Nem preciso dizer que a “indenização” deles foi uma exceção. Tanto que o Lúcio diz que até hoje tem gente lá onde ele morava na espera por indenizações justas (se é que isso é possível).
Tem gente que não vai ter todo o terreno alagado e só vai receber pelo que for comprometido. A Norte Energia só paga por terra alagada. Tipo, a pessoa recebe tanto por 1 hectare alagado, mas ela tem dois hectares. Muita gente não consegue se mudar com o valor pago e nem consegue vender o terreno "não alagado”, pois quem vai querer se mudar pra um terreno que ninguém sabe ao certo o que vai acontecer?!
Imagina só. Tu tens algumas terras, planta e colhe. Aí estás lá de boa escrevendo tuas poesias na varanda da tua casa quando chega um cara e diz: Vais ter que sair. Te dou tanto, mas só por essa parte, porque a hidrelétrica vai afetar “até aqui” (marca no chão). Gostaria muito de saber como eles fazem esse cálculo, sinceramente. Porque já vi gente no centro de Altamira tendo que sair porque a casa vai ser alagada e pessoas que moram no outro lado da rua, não. O rio só vai subir até metade da rua. Só pode. Acho que is construtores são tão poderosos que tem pleno controle até sobre onde o rio vai, acreditas?!
O Lúcio, assim como tu, é poeta e a Luana Peixe, amiga minha daí de Belém, vai fazer um filme sobre ele, por isso cá estou. Vim ajudá-la junto com a Janaína, amiga da Luana e agora, mais recentemente, minha amiga também. Por enquanto ainda não tem filme, mas deixo aqui essa poesia para te deixar na vontade:
Quando Um Ser Humano Se Torna Um Revolucionário – Lucimar Barros da Silva
Quando a luta se torna muito longa
E deixamos nossos filhos em casa
E saímos para essa luta
E voltamos para casa
Sem resposta concreta para afirmar
Quando vimos prédios tão bonitos
Que moram os políticos colocados com o nosso voto
E com eles queremos falar
E somos declarados
Que a agenda está cheia
E não podem nos escutar
Quando passamos por estradas asfaltadas
E até pintadas
E voltando já perto das nossas terras
Observamos que as nossas são todas rebanhadas
Quando nossos filhos não tem nem escolas para estudar
Embora tenham algumas com 7 a 8 quilômetros
E mesmo assim os políticos covardes querem fechar
Quando a nossa luta já está ficando no final
E toda papelada fica com os políticos dentro das gavetas
E nem vai para o Tribunal
Quando moramos em um certo lugar
De águas limpas e terras férteis
E sabemos que tudo isso poderá se acabar
Quando a luta se torna muito longa
E deixamos nossos filhos em casa
E saímos para essa luta
E voltamos para casa
Sem resposta concreta para afirmar
Quando vimos prédios tão bonitos
Que moram os políticos colocados com o nosso voto
E com eles queremos falar
E somos declarados
Que a agenda está cheia
E não podem nos escutar
Quando passamos por estradas asfaltadas
E até pintadas
E voltando já perto das nossas terras
Observamos que as nossas são todas rebanhadas
Quando nossos filhos não tem nem escolas para estudar
Embora tenham algumas com 7 a 8 quilômetros
E mesmo assim os políticos covardes querem fechar
Quando a nossa luta já está ficando no final
E toda papelada fica com os políticos dentro das gavetas
E nem vai para o Tribunal
Quando moramos em um certo lugar
De águas limpas e terras férteis
E sabemos que tudo isso poderá se acabar
Em fevereiro de 2011, o Lucio junto com um grupo de pescadores, ribeirinhos e indígenas foi até Brasília ao encontro da Dilma para entregar meio milhão de assinaturas contra a hidrelétrica de Belo Monte. A presidenta não os atendeu. O Lúcio então escreveu esta poesia.
Abraço da sua amiga aprendiz de revolucionária.
Larissa.