Lu,
te escolhi para contar um segredo. Quero confessar porque isso já vem guardado comigo há alguns anos. Sei que podes discordar de mim, mas irás ler tudo até o final com a paciência de Jó que tens.
Saio por aí esbanjando alguns sorrisos, mas não dá, chega uma hora que a verdade precisa sair.
Cara, Eu não gosto do Natal.
Não gosto do corre-corre, do amigo invisível, da comida agridoce, dos abraços longos e sem vontade, de presépio, papai noel, pisca-pisca e nem de nada dessas coisas todas.
“Por que Jesus não nasceu no Círio?”, me pergunto sempre. Círio é uma época esplendorosa. Cidade em festa. Apesar do ar celestial, as pessoas estão mais voltadas às coisas da terra. Pisam no chão, se sujam, usam roupas do dia a dia, compartilham a maniçoba. Ah a maniçoba...
Círio é tempo de boas comidas, já no Natal tem passas pra todo lado. No Peru, no arroz, na sobremesa.
Lá em casa, a minha avó, a dona Altamira, não deixava ninguém comer sem antes assistir toda a transmissão da missa do galo. Nossa!!! Era um tédio!!! Eu passava o dia todo rodeando a cozinha, atraída pelo cheiro do peru e dos doces gostosos. Minha família nunca teve muita grana, mas a vovó parcelava em três vezes no cartão e não deixava faltar a "ceia do menino Jesus". À noite, eu estava morta de fome e ansiosa pelas comidas diferentes, mas tinha que aguentar o papa rezando quase duas horas seguidas em latim com aquela narração medonha e quando finalmente eu ia me deliciar, achava um monte de comida contaminada de passas.
Além das passas e da missa do galo, uma das coisas que mais me incomoda no Natal é esse ar de confraternização familiar. Nunca gostei das fotos, cartazes e publicidades com aquela família branca, rica, feliz com pai, mãe e filhos sentados ao redor da mesa e um pinheiro no canto da sala.
te escolhi para contar um segredo. Quero confessar porque isso já vem guardado comigo há alguns anos. Sei que podes discordar de mim, mas irás ler tudo até o final com a paciência de Jó que tens.
Saio por aí esbanjando alguns sorrisos, mas não dá, chega uma hora que a verdade precisa sair.
Cara, Eu não gosto do Natal.
Não gosto do corre-corre, do amigo invisível, da comida agridoce, dos abraços longos e sem vontade, de presépio, papai noel, pisca-pisca e nem de nada dessas coisas todas.
“Por que Jesus não nasceu no Círio?”, me pergunto sempre. Círio é uma época esplendorosa. Cidade em festa. Apesar do ar celestial, as pessoas estão mais voltadas às coisas da terra. Pisam no chão, se sujam, usam roupas do dia a dia, compartilham a maniçoba. Ah a maniçoba...
Círio é tempo de boas comidas, já no Natal tem passas pra todo lado. No Peru, no arroz, na sobremesa.
Lá em casa, a minha avó, a dona Altamira, não deixava ninguém comer sem antes assistir toda a transmissão da missa do galo. Nossa!!! Era um tédio!!! Eu passava o dia todo rodeando a cozinha, atraída pelo cheiro do peru e dos doces gostosos. Minha família nunca teve muita grana, mas a vovó parcelava em três vezes no cartão e não deixava faltar a "ceia do menino Jesus". À noite, eu estava morta de fome e ansiosa pelas comidas diferentes, mas tinha que aguentar o papa rezando quase duas horas seguidas em latim com aquela narração medonha e quando finalmente eu ia me deliciar, achava um monte de comida contaminada de passas.
Além das passas e da missa do galo, uma das coisas que mais me incomoda no Natal é esse ar de confraternização familiar. Nunca gostei das fotos, cartazes e publicidades com aquela família branca, rica, feliz com pai, mãe e filhos sentados ao redor da mesa e um pinheiro no canto da sala.
A minha família nunca teve e nem terá nada a ver com esses comerciais. Olhava isso e sempre pensava que faltava alguém nas minhas fotos de família.
Como sabes, fui criada com a minha avó. Desde os 4 anos não moro com a minha mãe e lembro que em todos esses anos só passei o Natal com ela uma vez.
Ano após ano era a mesma coisa. Ela ligava umas sete da noite, por volta de meia noite na Espanha, dizia que estava com saudade, pedia pra Jesus me abençoar, chorava, chorava, chorava por estar longe e me deixava numa bad o resto da noite.
O único Natal em que passamos juntas ela resolveu aparecer do nada. Chegou com uns presentes, toda sorridente. Tomei um susto. Quase morro de tanta felicidade.
A euforia durou pouco.
Depois me abraçar, me beijar e me dar todo o amor que tinha guardado durante alguns anos sem me ver, ela resolveu falar para toda família, conhecidos, amigos dos amigos de conhecidos e pra quem mais quisesse ouvir que um dia, conversando com ela por telefone, eu revelei: “Mãe, eu tenho uma coisa pra te dizer. Eu sei de onde as crianças vem”.
Depois que ela disse isso, eu fui pro quarto e, chorando, soquei o travesseiro algumas vezes enquanto repetia baixinho “É a maior vergonha da minha vida pra sempre. É a maior vergonha da minha vida pra sempre". Eu tinha 8 anos, mal sabia eu o que me esperava depois dos 16. Desejei que ela fosse embora logo antes de falar mais alguma besteira e maldisse o Natal várias vezes.
Esse ano resolvi deixar o passado para trás e fazer algo diferente. Fui festejar o Natal no Ver-o-peso. Cheguei na casa da vovó umas onze, comi o peru (com passas) e sai de novo. Passei a noite batucando no tradicional Bar do Parque, madruguei e hoje fui pro Império Romano, esse bloco de carnaval fora de época que traz uma linha de felicidade instantânea em meio a tanta melacolia.
Saindo de lá acompanhei alguns amigos a uma festa, mas, chegando em frente não entrei. Comi um churrasquinho e fui embora. Pensei: "Tá bom. Tô bem já. Tive um bom Natal".
Me despedi e fui esperar o ônibus na parada. Deu um tempo e três caras chegaram. Um deles me mostrou uma faca e levou meu celular. Tentaram revirar os bolsos de um casal que dormia abraçado no banco ao meu lado. Eram dois homens e acho que os caras não quiseram acordá-los.
É, acho que realmente o Natal não é pra mim. Espero que para os três que me assaltaram ele seja um pouco melhor. Tentei evitar, mas no fim me perguntei: "Tinha que me assaltar justo no Natal? Quêdi o espírito Natalino, minha gente?".
Acho que ele, o espírito Natalino, mandou beijos pra mim e pra milhares de outros brasileiros.
Um abraço de quem acha que não precisa de data festiva para dar um abraço,
Larissa.
Ps: Outra que não teve nenhuma compaixão pelo espírito natalino foi a Dilma. Viste o presentão que ela Dilma nos deu? Ruralista e rainha do agronegócio no ministério da agricultura; um panfletário da colonização destruidora da Amazônia em Ciência e Tecnologia; um mentor de grandes desocupações familiares no ministério das Cidades; e um pastor da Universal , flagrado em 2005 com 1 milhão de reais na bagagem, no Ministério dos Esportes. Quem poderia esperar um cenário mais aterrorizante? Mas de boa, mana, consta nos astros que 2015 está chegando e todo mundo diz que as coisas vão melhorar... Só ainda não ouvi dizerem pra quem.
Como sabes, fui criada com a minha avó. Desde os 4 anos não moro com a minha mãe e lembro que em todos esses anos só passei o Natal com ela uma vez.
Ano após ano era a mesma coisa. Ela ligava umas sete da noite, por volta de meia noite na Espanha, dizia que estava com saudade, pedia pra Jesus me abençoar, chorava, chorava, chorava por estar longe e me deixava numa bad o resto da noite.
O único Natal em que passamos juntas ela resolveu aparecer do nada. Chegou com uns presentes, toda sorridente. Tomei um susto. Quase morro de tanta felicidade.
A euforia durou pouco.
Depois me abraçar, me beijar e me dar todo o amor que tinha guardado durante alguns anos sem me ver, ela resolveu falar para toda família, conhecidos, amigos dos amigos de conhecidos e pra quem mais quisesse ouvir que um dia, conversando com ela por telefone, eu revelei: “Mãe, eu tenho uma coisa pra te dizer. Eu sei de onde as crianças vem”.
Depois que ela disse isso, eu fui pro quarto e, chorando, soquei o travesseiro algumas vezes enquanto repetia baixinho “É a maior vergonha da minha vida pra sempre. É a maior vergonha da minha vida pra sempre". Eu tinha 8 anos, mal sabia eu o que me esperava depois dos 16. Desejei que ela fosse embora logo antes de falar mais alguma besteira e maldisse o Natal várias vezes.
Esse ano resolvi deixar o passado para trás e fazer algo diferente. Fui festejar o Natal no Ver-o-peso. Cheguei na casa da vovó umas onze, comi o peru (com passas) e sai de novo. Passei a noite batucando no tradicional Bar do Parque, madruguei e hoje fui pro Império Romano, esse bloco de carnaval fora de época que traz uma linha de felicidade instantânea em meio a tanta melacolia.
Saindo de lá acompanhei alguns amigos a uma festa, mas, chegando em frente não entrei. Comi um churrasquinho e fui embora. Pensei: "Tá bom. Tô bem já. Tive um bom Natal".
Me despedi e fui esperar o ônibus na parada. Deu um tempo e três caras chegaram. Um deles me mostrou uma faca e levou meu celular. Tentaram revirar os bolsos de um casal que dormia abraçado no banco ao meu lado. Eram dois homens e acho que os caras não quiseram acordá-los.
É, acho que realmente o Natal não é pra mim. Espero que para os três que me assaltaram ele seja um pouco melhor. Tentei evitar, mas no fim me perguntei: "Tinha que me assaltar justo no Natal? Quêdi o espírito Natalino, minha gente?".
Acho que ele, o espírito Natalino, mandou beijos pra mim e pra milhares de outros brasileiros.
Um abraço de quem acha que não precisa de data festiva para dar um abraço,
Larissa.
Ps: Outra que não teve nenhuma compaixão pelo espírito natalino foi a Dilma. Viste o presentão que ela Dilma nos deu? Ruralista e rainha do agronegócio no ministério da agricultura; um panfletário da colonização destruidora da Amazônia em Ciência e Tecnologia; um mentor de grandes desocupações familiares no ministério das Cidades; e um pastor da Universal , flagrado em 2005 com 1 milhão de reais na bagagem, no Ministério dos Esportes. Quem poderia esperar um cenário mais aterrorizante? Mas de boa, mana, consta nos astros que 2015 está chegando e todo mundo diz que as coisas vão melhorar... Só ainda não ouvi dizerem pra quem.