Oi, Paloma, como que anda a vida por São Paulo? Tu e a Mafê conseguiram ir ao show da Maria Bethania? Espero que sim.
Minha passagem por aí foi curta, mas me deixou com saudades. Adorei te conhecer pessoalmente e compartilhar histórias e comidas. Antes de falar sobre os primeiros dias na Catalunha, queria agradecer pela acolhida na tua casa. Por causa da pressa de trocar os euros nem consegui me despedir direito. Esquecer a bolsinha de dinheiro na casa do câmbio horas antes da viagem foi um transtorno, mas me fez observar muitas coisas na cidade da garoa.
A propósito, como choveu quando eu estava aí, né?! Diz que paraense leva chuva para todo canto. Acho bom levar uma ruma para aí na esperança de cair mais água. Li que alguns reservatórios elevaram os níveis. Uma boa notícia. Agora só falta decidirem parar de construir hidrelétricas, que estão diretamente ligadas ao desmatamento da Amazônia, que está ligado com a seca aí em São Paulo. Pelo menos é o que diz a teoria dos rios voadores, na qual eu boto mó fé. Poisé, assim como em São Paulo, os primeiros dias na Catalunha também foram de chuva. Imagina aí. Um frio de 6, 7 graus e mais umas chuvinhas de vez em quando. Que beleza, ein?! Quem mora aqui diz que agora está melhorando e o tempo está "más calientito". Eu que sinto frio com a chuvinha no fim da tarde de Belém não sinto muita diferença na temperatura e saio toda empacotada sempre.
Minha passagem por aí foi curta, mas me deixou com saudades. Adorei te conhecer pessoalmente e compartilhar histórias e comidas. Antes de falar sobre os primeiros dias na Catalunha, queria agradecer pela acolhida na tua casa. Por causa da pressa de trocar os euros nem consegui me despedir direito. Esquecer a bolsinha de dinheiro na casa do câmbio horas antes da viagem foi um transtorno, mas me fez observar muitas coisas na cidade da garoa.
A propósito, como choveu quando eu estava aí, né?! Diz que paraense leva chuva para todo canto. Acho bom levar uma ruma para aí na esperança de cair mais água. Li que alguns reservatórios elevaram os níveis. Uma boa notícia. Agora só falta decidirem parar de construir hidrelétricas, que estão diretamente ligadas ao desmatamento da Amazônia, que está ligado com a seca aí em São Paulo. Pelo menos é o que diz a teoria dos rios voadores, na qual eu boto mó fé. Poisé, assim como em São Paulo, os primeiros dias na Catalunha também foram de chuva. Imagina aí. Um frio de 6, 7 graus e mais umas chuvinhas de vez em quando. Que beleza, ein?! Quem mora aqui diz que agora está melhorando e o tempo está "más calientito". Eu que sinto frio com a chuvinha no fim da tarde de Belém não sinto muita diferença na temperatura e saio toda empacotada sempre.
Aqui estou perto de Barcelona, a uns 40 minutos, perto de uma cidade chamada Vallbona d´Anoia. Calafou, a colônia para onde vim, está a uns 10 minutos andando deste povoado.
Os primeiros dias foram um pouco difíceis. Como sabes, gosto bastante de falar, contar histórias e fazer piadas. Aqui ando bem calada porque acho que domino o idioma menos que imaginava.
Os primeiros dias foram um pouco difíceis. Como sabes, gosto bastante de falar, contar histórias e fazer piadas. Aqui ando bem calada porque acho que domino o idioma menos que imaginava.
As pessoas não entendem muito minhas graças. Assim, estou me reinventando um dia após o outro. Reinventar e se conhecer. Acho que essas são as coisas que busco com a experiência que vim ter aqui. É como tento encarar.
Todo dia tem coisa para fazer. De tédio não posso reclamar. Já cortei lenha, fiz comida na cozinha comunitária, ajudei a fazer um muro de pedras, envasilhei e rotulei cervejas e ainda as levei para a Ecoxarxa, lugar onde as cooperativas vendem azeite, frutas, verduras, biscoitos, etc.
Calafou faz parte da Cooperativa Integral Catalana. Como o nome diz, é uma cooperativa que integra várias outras. A Ecoxarxa tem moedas sociais e assim podes comprar, vender e trocar. Ah, um detalhe, se não tiveres o suficiente para comprar alguma coisa, não acontece nada, tu compras de qualquer jeito, podendo ter um débito de até 100 rius, nome da moeda social utilizada pelas cooperativas aqui da região de d`Anoia . Assim, se tem uma semana que tu não estás muito bem de grana, podes comprar umas frutas, um arroz, um vinho e na semana seguinte levas uns biscoitos, umas cervejas e umas pizzas para vender e consegues quitar o débito.
Aqui em Calafou vivem umas 40 pessoas, mas nem todas estão aqui. Dizem que vim em uma época legal, as pessoas estão trabalhando bastante e xs convidadxs, como eu, também.
Todo dia tem coisa para fazer. De tédio não posso reclamar. Já cortei lenha, fiz comida na cozinha comunitária, ajudei a fazer um muro de pedras, envasilhei e rotulei cervejas e ainda as levei para a Ecoxarxa, lugar onde as cooperativas vendem azeite, frutas, verduras, biscoitos, etc.
Calafou faz parte da Cooperativa Integral Catalana. Como o nome diz, é uma cooperativa que integra várias outras. A Ecoxarxa tem moedas sociais e assim podes comprar, vender e trocar. Ah, um detalhe, se não tiveres o suficiente para comprar alguma coisa, não acontece nada, tu compras de qualquer jeito, podendo ter um débito de até 100 rius, nome da moeda social utilizada pelas cooperativas aqui da região de d`Anoia . Assim, se tem uma semana que tu não estás muito bem de grana, podes comprar umas frutas, um arroz, um vinho e na semana seguinte levas uns biscoitos, umas cervejas e umas pizzas para vender e consegues quitar o débito.
Aqui em Calafou vivem umas 40 pessoas, mas nem todas estão aqui. Dizem que vim em uma época legal, as pessoas estão trabalhando bastante e xs convidadxs, como eu, também.
Outro dia ajudei o pessoal a pintar uma escola que irá funcionar com uma pedagogia libertária. Me explicaram um pouco e a escola buscará ter um ensino baseado mais na colaboração que na competição, não utilizando da meritocracia. A ideia é fazer com que a criança tenha valorizada suas escolhas e afinidades por meio de grupos de estudos estimulando o aprendizado uns dos outros.
Não sei bem como funcionará na prática. Alguns por aqui dizem que já viram escolas semelhantes em outros lugares e acham que elas podem ser um antro de pequenos tiranos. Eu, particularmente, acho que pequenos tiranos podem surgir em qualquer escola. Por isso achei bem bacana o projeto.
De vez em quando, quando vejo a galera trabalhando, lembro de um coletivo de cinema que existia na UFPA chamado "Cardume: Peixes juntos fazem onda".
Falando em peixes, lembrei o que ia te dizer no início desta carta. Ia te falar sobre os metrôs de São Paulo. Ver na televisão a galera toda amontoada é bem diferente do que pessoalmente. Quando fui fazer o câmbio do dinheiro, entrei na estação, estava a caminho da bilheteria e quando vi havia um monte de gente vindo na minha direção. Senti que se não apressasse o passo a multidão ia me pisotear ou me empurrar para sair do caminho. Aquela gente toda junta saindo da estação parecia um monte de piaba. Sabe piabinha? Aquele peixinho que parece que vai cegamente rápido pelos varadouros do rio e quando algo atrapalha pelo caminho o cardume se dispersa e vai cada um pro seu lado. Acho piaba um peixe tão acelerado que parece que não consegue nem viver direito, só consegue pensar em correr.
Poxa, se for pra ser um cardume, que sejamos um cardume de pirarucu. O pirarucu é calmo, nada lentamente, segue seu ritmo e vive na várzea, onde as águas são calmas e normalmente cristalinas. Diz que o pirarucu ainda resiste bravamente contra os pescadores, os arrastando pelo rio quando recebe uma arpoada.
Acho que no momento quero levar a vida mais como pirarucu do que como piaba. Ainda mais nesse tempo próprio que tem Calafou.
Não posso negar que também me deixei envolver com o ritmo de São Paulo. Primeiro ia andando lentamente, ia no lado direito da escada rolante e até conseguia ler meu livro. Uma hora, quando me vi, já estava correndo junto com o cardume de piaba, mas logo me dei conta e voltei a ser pirarucu.
Cuidado com os cardumes que escolhes, Paloma.
Um abraço da tua mais recente amiga que sempre está atrás de cardumes para fazer ondas. Acho que já faço parte do teu, né?!
Larissa.
Não sei bem como funcionará na prática. Alguns por aqui dizem que já viram escolas semelhantes em outros lugares e acham que elas podem ser um antro de pequenos tiranos. Eu, particularmente, acho que pequenos tiranos podem surgir em qualquer escola. Por isso achei bem bacana o projeto.
De vez em quando, quando vejo a galera trabalhando, lembro de um coletivo de cinema que existia na UFPA chamado "Cardume: Peixes juntos fazem onda".
Falando em peixes, lembrei o que ia te dizer no início desta carta. Ia te falar sobre os metrôs de São Paulo. Ver na televisão a galera toda amontoada é bem diferente do que pessoalmente. Quando fui fazer o câmbio do dinheiro, entrei na estação, estava a caminho da bilheteria e quando vi havia um monte de gente vindo na minha direção. Senti que se não apressasse o passo a multidão ia me pisotear ou me empurrar para sair do caminho. Aquela gente toda junta saindo da estação parecia um monte de piaba. Sabe piabinha? Aquele peixinho que parece que vai cegamente rápido pelos varadouros do rio e quando algo atrapalha pelo caminho o cardume se dispersa e vai cada um pro seu lado. Acho piaba um peixe tão acelerado que parece que não consegue nem viver direito, só consegue pensar em correr.
Poxa, se for pra ser um cardume, que sejamos um cardume de pirarucu. O pirarucu é calmo, nada lentamente, segue seu ritmo e vive na várzea, onde as águas são calmas e normalmente cristalinas. Diz que o pirarucu ainda resiste bravamente contra os pescadores, os arrastando pelo rio quando recebe uma arpoada.
Acho que no momento quero levar a vida mais como pirarucu do que como piaba. Ainda mais nesse tempo próprio que tem Calafou.
Não posso negar que também me deixei envolver com o ritmo de São Paulo. Primeiro ia andando lentamente, ia no lado direito da escada rolante e até conseguia ler meu livro. Uma hora, quando me vi, já estava correndo junto com o cardume de piaba, mas logo me dei conta e voltei a ser pirarucu.
Cuidado com os cardumes que escolhes, Paloma.
Um abraço da tua mais recente amiga que sempre está atrás de cardumes para fazer ondas. Acho que já faço parte do teu, né?!
Larissa.