Cheguei com as mochilas pesadas da última viagem. Ele me convidou para entrar e foi informando:
- Não tenho nada pra te oferecer de comer.
Eu era uma estranha na minha própria casa. Disse com o tom da distância que se fez presente devido aos meses que nos separaram.
Tomamos um vinho velho. Um que nos deram de presente para “um bom momento”. Em um ano, nunca o abrimos e desfrutamos. O vinho era pra ser tomado em um momento especial. Ficou para “o fim”.
Planejamos a vida. Planejamos sonhos. Compartilhamos bons e maus momentos como qualquer casal.
O que mais me fazia bem era dormir com a perna em cima dele e acordar com a dele em cima de mim.
Queria o dia a dia. Queria a vida ao lado. O cotidiano e os banhos de chuveiro juntos. Planejamos muitas coisas, o nome da filha, do filho, o dia seguinte, as viagens. Quis tudo isso por muito tempo, mas os planos mudaram. Tudo mudou. Os planos se dividiram. A vida a dois se foi.
Fiz uma escolha. Uma difícil escolha. Élio, Zila, Leusa e Juarez. Não coube todo mundo nos meus pensamentos regados pela insônia. A cama pesou. Quebrou.
Não sei escrever sobre o que não me motiva. Não consigo ser motivada pelo que não faz meu sangue ficar quente. Sou movida por paixões. Quando não tenho paixões, nada sei fazer.
Sentimental? Sim, eu sou. Ré confessa.
Quando falta paixão, nada sai.
O fim das paixões me corta. Me trava.
Se faço esta carta agora é porque estou travada, parada, e tenho uma vida para continuar a escrever, mas nada sai nesta página em branco. Nada sai...